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1. |
Alma Penada
04:01
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(refrão)
Quem me leva
Desta terra?
Vem depressa
Alma pesa.
(verso)
Tou a tentar não pagar caro
p’lo último lugar no batel
Desabafar tudo e purgar o chumbo
das minhas entranhas de réu
Porém o Meirinho olha para mim
e profere a sentença final
“Espírito impuro, deambula no escuro
Suplica com urros como um animal”
Alma Penada num mundo terreno,
Condenada p’ra sempre ao mesmo enredo
Acabas demente a dar c’a cabeça na parede
Sentindo que nada te foi suficiente,
Nada te deixou contente,
Nada matou-te os arrependimentos
Nada te fez sentir menos pequeno
ou apenas que tu tenhas feito a diferença.
Esta é a penitência
por tudo de bom que tu desperdiçaste.
Nessa tua essência
perante uma dádiva vias desastre.
Eras uma aparência
Vivias somente p’rá opinião dos outros
Esquecias aqueles que mais te amavam
Pra que o mundo soubesse um dia quem foste.
Pernas são mais lentas do que essa avidez de fera gostava,
Servas d’ ampulhetas em que a areia nunca espera molhada.
Queres que a tua letra seja importal mesmo amaldiçoada?
Há beleza
Na certeza
De que um dia
Tudo isto acaba.
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2. |
Ponte de Babel
04:48
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(intro)
No fundo da ribeira há um corpo morto,
uma ruína,
Tombada pelas cheias e por feias
Ventanias.
Talvez seja melhor assim...
Se não dá, não dá.
Se ao menos pudesse voltar atrás
Tudo faria
Pra conservar a casa e ter de volta
Essa harmonia.
Mas talvez seja melhor assim...
(refrão)
Trago cacos no meu bolso
Que me lembram do quão
Fracassado foi o esforço
Numa Ponte sem chão.
Caudal bravo, engole escombros
Ai, é uma maldição!
E quando eu juro quebrá-la
Vejo a Ponte no chão.
(verso)
Ainda não tínhamos vindo ao mundo quando eles se viram
Cada um na sua margem.
Não sei se foi paixão à primeira vista, a ribeira diz
Que foi só necessidade em assentar, aceitar
Vida é mais fácil a par
Chega de deitar tarde, agora é vergar, poupar.
Fez-se a Ponte à pressa com metal no anelar:
um arco de volta perfeita sem pedra angular.
Dois indivíduos vindos de sítios semelhantes.
Ya...vinham de Pontes vacilantes.
Desejavam tanto quebrar essa maldição
Mas a Ponte entre eles não era a mesma para ambos.
As águas rebentaram em abril
E eu abri os olhos,
Fui o primeiro a gatinhar no tabuleiro.
Após quatro voltas ao sol o vazio ganha voz:
um mano com quem aprendi a dizer “nós”.
Entretidos co’a inocência nos dedos,
Mal sabíamos que a ausência do medo não dura para sempre
Vozes de parentes vindas das encostas alimentam
Vozes rancorosas dentro de quatro paredes.
A sério?
Agora à mesa é sempre a mesma sobremesa?
Uma discussão azeda, a merda dum braço de ferro
Enferrujado p’la saliva saída dos berros?
“EU JÁ TOU FARTO DE TE VER POR PERTO CARALHO”
Maldita Ponte de Babel...
O que era mel, tornou-se fel.
Fazemos de conta que somos surdos,
Mas insultos são tão brutos e gratuitos
Que nos arrancam a pele.
E puxam-nos a todos rumo ao lodo da ribeira.
Um lar outrora calmo agora é cacos e poeira.
Um par que se amava agora aparta-se em trincheiras
E nós sem saber nadar nas águas traiçoeiras.
Vida vira um vaivém entre as areias
à espera de voltar a ouvi-los com as vozes meigas...
(refrão)
Trago cacos no meu bolso
Que me lembram do quão
Fracassado foi o esforço
Numa Ponte sem chão.
Caudal bravo, engole escombros
Ai, é uma maldição!
E quando eu juro quebrá-la
Vejo a Ponte no chão.
(outro)
Caudal bravo
Engole escombros
Ai é uma maldição!
Fracassado foi o esforço
Numa Ponte sem chão.
E quando eu juro quebrá-la
Vejo a Ponte no chão
Caudal bravo
Engole escombros
Ai é uma maldição!
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3. |
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(verso)
RIÇA
Não peço menos que o universo todo!
Guarda os ditados, nada me pode dar cabo dos sonhos
Velho tolo, tira-me a puta da pata do ombro!
Vais-te lembrar do nome quando estiveres a soro.
Não prendem esta cigarra, eu sou ambulante
Eu não nasci pra vir a morrer um Rato do Campo.
Eu tenho planos e no meio de tantos
Já só me falta ser maior de idade, longe desta antro cansado.
Quero fumo, ruído,
Tudo o que é proibido
Cenário citadino
Pa singrar como indivíduo.
Farto d’hortas e silvas,
Erva e terra nas tilhas,
Maldita vila, fede a merda
Anis e naftalina...
Farto de metediços
Com telhado de vidro
A mamar subsídios
Nem sabem o que é um livro...
Tou farto de ser contido
Olhado como um esquisito
Não, eu não saí do circo
Se ainda moro neste sítio.
Na bouça não há quem me ouça
Já só venho aqui pra dormir e mudar de roupa
Parolos só querem novela, vício e bola
Carro, casa, casamento, cachopos e cova (ah!)
Cotas reprovam co’a cabeça
Oxalá não t’ aconteça nenhuma surpresa
E tenhas que voltar à mesma casa
Que rejeitaste outrora, essa porta vai ‘tar trancada
Rapaz tu toma nota:
O tiro sai pela culatra.
(bridge)
Ninguém leva a sério o que diz o puto.
Aos olhos desses velhos sou um Sabe-Tudo.
Ninguém leva a sério o que diz o puto.
Dizem que lá na cidade eu vou ser mais um vulto
Com vergonha das origens e acabar maluco mas
(refrão)
Não quero morrer nesta terra em vão
Ser o que não tenta
O meu lugar não é na procissão
Sou uma ovelha negra
Só quero bazar desta terra e não
Voltar sem ser lenda
E no final verás quem tem razão
Então lembra-te!
(verso)
ROKELHE
Aqui não há tronos de ferro,
quem é rei mora fora, quem reina aqui é cego
As vistas que refiro são como um dilúvio eterno
Quem não anda pelo esgosto treina com um Splinter térreo
É tão simplório
Já vi um Moto Rato se tornar ratatui sóbrio
Já vi um Topo Gigio perder o ar de campónio
quando trocou o vazio por um lugar mais erróneo
Mas eu adoro este inferno
Cá o Jerry e o Timóteo são assassinos em série
Toda esta adrenalina move o Porto pós-moderno
Aceita que dói menos, pois não há outro remédio
São ruídos, ruelas, rateres, rodas e rasgões
controlados por Speedies ou Mickeys com mutações
São viagens a dois com destino para pensões
Não há amor num lar de ratos, no máximo há lesões
Mas corre, até com as quatro patas bambas
Ou morre como um cobaia de Hamelin
Não há equipa de resgate tipo Bernardo & Bianca,
nem o próprio Rato Basílio aguenta o chinfrim
É a movida que nos move, habitua-te
A noite é uma criança Pequeno Stuart
Este sítio é perdição, então procura-te
porque o trilho para nirvana tortura-te.
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4. |
Canção das Maias
05:42
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(intro)
Eu fujo, tu caças, eu caças, tu fujo
Foges, eu caço, eu caças, tu
Fujo, tu caças, eu caças, tu fujo
Foges, eu caço, eu caças, tu
Há uma névoa aqui ao pé que me cerca a morada aberta
Só me liberta quando eu for chamado à pedra
Perto da cova ou na queima da carne morta
Quem me dera saber saciar-lhe a cólera.
Nesse lençol só cavalgam pesadelos
Servem o carrapato sepultado sob os meus cabelos
E à noite vêm mascarados de caretos
Sedentos por cravar os dentes
No pescoço das minhas inseguranças,
Não há reza nem responso
Que os faça dar um passo em falso no meu fojo
Fujo coxo desse negro rosto
que me quer ver amarelo ou roxo
Ver-me rubro deixa-o indisposto.
(refrão)
Ando fugido no meio de maias
Escondido desses perdigueiros da raiva
E por mais que eu tenha camuflada a cara
Eles cheiram o sangue da ferida que não sara
(bridge)
Eu fujo, tu caças, eu caças, tu fujo
Foges, eu caço, eu caças, tu
Fujo, tu caças, eu caças, tu fujo
Foges, eu caço, eu caças, tu
Não há canto ou pranto que quebre o quebranto
Até que a boca peça perdão por danos causados
E quanto mais eu adio mais o livro de S. Cipriano
Vive na ponta da língua dos magoados
Deus e o Mafarrico apostam alto na minha briga de galos
Não permitem intervalos, querem um lado abatido
Só há final para este conflito
No dia em que eu souber estar em paz comigo
Ainda assim duvido, o meu sexto sentido
Cisma que a felicidade é cilada dos outros cinco
Baixo a guarda e lá me aguarda magro e faminto
O gémeo-mor sombrio
O meu maior castigo
Digo p’ra mim mesmo que eu não sou bom tipo
Repito essa verdade a ver se ela vira mentira
Prefiro sepultar meus apelidos do que dar a um filho
Sangue maldito que nem um vampiro beberia
(refrão)
Ando fugido no meio de maias
Escondido desses perdigueiros da raiva
E por mais que eu tenha camuflada a cara
Eles cheiram o sangue da ferida que não sara
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5. |
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(refrão)
Coisas que eu mal me lembro
Habitam-me cá dentro
Mas os cheiros no vento
Desenterram momentos
Cá dentro
Pequeno
Pa sempre
(Pa sempre)
Porque os cheiros
Desenterram momentos
(verso)
RIÇA
Farturas e Sumol na goela
Festas de São Miguel, caçadinhas na capela.
Aventuras na minha bike amarela
Pelotão de catraios aos malhos pelas ruelas
Não nos damos parados,
Só queremos disparate
Descarados, desviamos arames e um alicate
Levamos morfes e uma bola debaixo do braço
Bofes de fora a montar uma cabana lá no mato
À caça do grilo ou da sardanisca
Na mochila tazos, gameboy e fisga
Na Sede em Astromil, humilde trapezista
Baloiço só pára quando tocar no céu acima.
Briol no corpo, bombazine e um gorro
Perfume vem do fumo da lenha a moer no forno
E no recreio já sinto o cheiro a Outono
Saltar à fogueira, castanhas com sal grosso.
Tão doce a casa da Dona Sofia
Famel do Sô Manel vicia o cheiro a gasolina
Pai bate uma manilha e dá-nos trocos pra Gorilas
Mães bate na vasilha açúcar, ovos, margarina.
Despertador às sete da matina
Pr’a capital do móvel, galinhada na carrinha
Na Rádio Arouca eu ouço uma concertina
E o fedor na mala dá-me uma volta à barriga.
(refrão)
Coisas que eu mal me lembro
Habitam-me cá dentro
Mas os cheiros no vento
Desenterram momentos
Cá dentro
Pequeno
Pa sempre
(Pa sempre)
Porque os cheiros
Desenterram momentos
(verso)
KASS
Odor, óh dor, ode de dissabor
Quando o teu perfume é de sangue e suor
Alegria
Está no fermento do sumo de uva
Nostalgia
Está no cheiro da primeira chuva
A corte dos porcos o melhor das escondidas
Pra não dar barraco vou esconder as minhas feridas
Velhas dançam vira enquanto olhamos as meninas
São marcas e cores do melhor das nossas vidas
São erros (erratas) pelos pés meto as patas
Vou estrumando o caminho faço crescer omoplatas
Canto esta dor sou Franco Sinatra
E a vida se perde sempre que o amor se escapa
Bola cheia cheiro a monte de infantário
Lei da selva sobrevive quem não for otário
Viro a roupa ao contrário assim escondo a sujidade
E o cheiro a velharias leva-me à minha cidade
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6. |
Mulher do Diacho
03:39
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Ela não joga co’ baralho todo
E fala alto como o caralho, moço...
Deixa-me a rir de nervoso
Quando aparece do nada
Co’ aquele olhar de já fostes.
Roga-me entre dentes uma praga
Enquanto arqueia-me o sobrolho
Eu já sinto ao longe o calor da lava
Que lhe bombeia o pescoço,
Pompeia ao pequeno almoço (ai, ai)
Tirá-la do sério p’ra mim é um desporto
Mas bem lá fundo a catraia é um doce
Mal chega ao baile mete todos no bolso
E só fecha o tasco quando chega o 112.
Mulher do Diacho,
Mais ardente que um gole de bagaço.
Dá vontade de botá-la goela abaixo,
Falar-lhe com a classe poética do Bocage.
Essa cachopa não foi feita para um santuário,
Dá-lhe corda e vês um bicho ordinário
Tem o seu q.b. de fada do lar
Mas não está para aturar merdas do tempo de Salazar
Epá, não é menina de ficar à janela
Não é da bouça mas parece quando
Ela solta aquele arroto, memo badalhoco
No meio do povo e deixa o sogro orgulhoso.
(refrão)
Nunca vi tal féme fatal
Não há quem a cale
Ou quem a calque,
Na, na, na....
Nunca vi tal féme fatal
Acho que isto ainda
Vai acabar mal.
Escusas de ir à bruxa p’ra saber das intenções
Sim, ‘tou interessado p’ra além desses dois melões
Eu não sou a Lúcia mas tenho tido visões:
Eu e tu no Sá Carneiro a roubar aviões.
É uma ideia fofa, ‘bora planear
Enquanto eu lavo a louça e tu pões a roupa a secar
A ver se a noite acaba co’a tua água no meu paladar
E como eu sou bicho do mato nem tens que te depilar.
Mas se não tiveres nessa ficamos na conversa
Ou vamos até Leça apanhar um ar
E voltamos sem pressa, já temos uma neta,
Continuas boneca e eu com queda capilar
Eu com pêlo nas orelhas, tu com ganda buço
Com o nosso material já fora de uso
Faço-te aquela ceia romântica com tudo:
Copo d’ água, medicação e papas de sarrabulho.
(refrão)
Nunca vi tal féme fatal
Não há quem a cale
Ou quem a calque,
Na, na, na....
Nunca vi tal féme fatal
Acho que isto ainda
Vai acabar mal.
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7. |
Queima do Zé
03:57
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(intro)
Queima, queima
Queima o Zé
Eh compadre, chama o padre!
Diz que o diabo ‘tá enjaulado lá no adro
Açaimado e vendado
Ele pede ao padre que lhe traga um cigarro
É bem provável acabar chalupa da minha cabaça,
Intratável, sem casa, família caída em desgraça
A subir e descer nisto tipo Bom Jesus de Braga
Sempre o fiz descalço, não me venham cá dar graxa.
Dou aos pedais como o peregrino d’ Aldoar
Querem a vida do Malhão, é ver-vos a malhar
Piso palcos de braços no ar, sem fazer lagar,
Plateia até lembra uma alcateia em noites de luar.
Carrapato em solo sagrado,
Sola do meu sapato sabe ser um arado nisto
Venha o mau olhado, olhem de cima ou de lado
Riça tem olhar de basilisco.
Não nasci para criado, fui parido p’a criar
O catraio há de ser um mito
Só quero deixar um recado:
Meu nome é Zé do Telhado
Vão desejar nunca ficar ricos.
Talento vem da solidão,
no tempo em que os dentes eram penedos do Marão,
no tempo em que eu era uma merda, um puto marrão
A dar enxaquecas à terra com o meu som.
Comi muita sopa, sem colher, sem broas
Cantei pelas sombras, com casas às moscas
Sacrifiquei moças, pratiquei na lousa
P’ra ser a madição das Caldas, o medo da louça.
Sou monstro, demonstro:
Escrevo c’a direita só ouço “Cruzes canhoto!”
Se tombo no poço
Sou Maria Gancha e vossos filhos meu almoço.
Não adianta o alho-porro a dar no corno
Sou Arminda de Jesus, tenho o diabo no corpo
Sôr Abade, venha de lá essa lenha e o fogo
Que eu não morro! é o início de mais um retorno
(bridge)
Senhor padre
Lume é bravo
Mas não arde na minha carne
Sou o diabo!
Senhor padre
Sei que é chato
Volto cá reencarnado
Nos gaiatos
Bicho-carpinteiro por inteiro que aqui anda
Bisgo a dar com pau, sou Pauliteiro de Miranda
Diz-me que o tinteiro que eu tenho é de sangue
Assinto emprestar o meu jeito, assino Dona Branca
A campa que me levar só no antigo das Antas
Tenta o meu tamanho, ó meu amigo nem de andas
Dá às chancas, pintar manta não adianta, vê se achantras
Santa-Rita Pintor entrego o labor às chamas
Canta a tabuada, não contas com este abuso
Perdes o fio à meada, rói o teu sabugo
Sai chapada à pai, a tua tromba vira adufe
Pitéu da Mealhada quando à caneta dou uso
Língua afiadinha tipo a menina Virinha
Sou uma vinha americana que te fode forte a pinha
És quem veste as calças lá em casa à moda antiga
Mas vê se vais ao teu alfaiate fazer a bainha
Não me vês remelas, só olheiras belas
João Pestana nesta cama acaba sem barbela
Num quarto à luz de velas tiro a tosse a várias melgas
Enquanto conjuro acapellas p’a queimar capelas
S’eu andar só a pele e costelas, tudo com cautela
Tiro da miséria a merda da minha moela
Visito ruelas, caço cabrões e cadelas
Degolo goelas como num sacrifício celta
Pátria cinzenta
Pá, teria que inventar
Forma de deixar negras e dar brancas
A quem aqui ‘tá a querer ser o capeta
Tão pitos...é uma pena...
Enquanto esfrego um olho
Sangro os frangos para o alguidar
Guiso em água benta
’Tá servida a merenda
Noviças e padrecos,
Há canecos no meu lindo altar
Pomada é bem azeda
Tuga treme das canetas
Quem é que vai ao tapete de ventas?
Um-dó-li-tá
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8. |
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9. |
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No início a vida foi-lhes mui madrasta
Cantaram às pedras para erguer a casa
Sob o jugo da besta de Santa Comba (Dão)
Esgravataram para alimentar as bocas
E não eram poucas...
Sopas de cavalo cansado
Dejejum p’a quem o trabalho
Era a multa pelo pecado
De se nascer sem um centavo
A bruxa deitou cartas
Deu alento às magras caras:
“As vossas crianças
não vão ter mãos calejadas!
Mantenham por perto
No vosso teto esta pobre aranha.
Mantenham por perto
No vosso teto esta pobre aranha!”
(refrão)
Deixa as teias em paz
Quero a algibeira cheia
P’ra poder ter paz
Ela já morava lá ao tempo quando eu era apenas um chavalo
Foi crescendo pouco a pouco sem ninguém s’ aperceber do
cabedal do animal
Para eles a criatura era sagrada, era amuleto
Dádiva de Deus, dava-lhes o alimento
Mas ninguém sequer sabia qual era o seu alimento
Ela sabia todas as fendas da casa e das cabeças por igual
Cada cruz, cada prece, cada furo que houvesse na camisa
velha e no avental
E é aí que aranha tece um venda p’ró casal e com ela
Desova-lhes nos olhos a inveja
Na manhã dos egos não teriam na memória
O que o demónio fizera na véspera
O bicho deu-lhes uma empresa e eles nisto
Subiram logo p’ró pedestal
Vida à grande e à francesa, só capricho
Por fim já ninguém vivia mal
As manias burguesas entupiram os ouvidos
E teias lá no lar já tinham mais limites
Naquele labirinto uma família de sete
Era o prato favorito da praga cravada ao teto
Da casa outrora modesta nada resta
Agora nesta casa colossal
Mau agoiro sai da sesta
Sob os pés da cara cama de casal
Veio o álcool e amantes, amigos de ocasião
Esfrega de oito patas incitava a discussão
Queijo e faca estavam na mão da razão
Mas na mão do marido estava um cinto sem perdão
O tempo foi agrisalhando cada filho
E foram-se afastando cada um p’ró seu quintal
Irmão de sangue em cabidela a matarem-se por milho
Não querem rabanadas, só falam de heranças no Natal
E eis que a vida faz-lhes a vontade tal e qual
Lá na filigrana a aranha antevê o final:
A mulher que os trouxe ao mundo numa cama de hospital.
Entrevada, ainda respirava
E eles já lhe tinham preparado o funeral
Veio o padre a pedido do marido dar a extrema-unção
Já as carpideiras ensopavam-lhe o caixão
E quando dava o último suspiro ela viu ali
Os oito olhos culpados por tudo estar assim
Murmura um lamento em vez do testamento
E a guerra na família nunca mais vê o seu fim.
(refrão)
Deixa as teias em paz
Quero a algibeira cheia
P’ra poder ter paz
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10. |
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(refrão)
Antes que t’ Afantasmes
Só queria dizer
Lamento os enganos
Anos passam a correr
Por vezes só queria
Cicatrizar a ferida
Quem sabe se um dia
Nós nos voltamos a ver.
RIÇA
Maldita pergunta que me incomoda
Com a vergonha aguda na resposta:
“Quão fácil foi virar as costas
A quem agora dorme sob rosas?”
Ponho as nódoas num prato da balança,
No outro ponho inócuas lembranças
Nas quais eu era só uma criança
Que te idolatrava mas agora quer distância
Dias são lebres a fugir de mim
Na sola da minha galocha viraste capim
Nunca mais batemos à porta efeitada com o azevinho
Mas sinto culpa quando penso em ti sozinho,
Na companhia do vinho,
Sem família, sem vizinhos
E eu por aqui fico com o meu umbigo
A pensar no dito e no não dito
O meu telemóvel toca, o teu número veio bater à porta
E eu não entendo porque não atendo
Será que é rancor a um estupor
Que me veio pedir um pequeno favor?
Será cobardia? Ou torpor? Ou pavor a uma dor
Ao supor que é uma tia ou doutor
A ligar-me e a avisar-me p’ra vestir de negro?
Não sei, nem cedo.
Fiz bem? Foi erro?
Deixei no me’mo desfecho:
Silêncio.
Vem-me à memória aquela velha estória
Do ramo de flores entregue fora de hora
E ao escrever-te isto sinto-me um hipócrita:
Não te atendi mas ‘tá aqui uma dedicatória.
(refrão)
Antes que t’ Afantasmes
Só queria dizer
Lamento os enganos
Anos passam a correr
Por vezes só queria
Cicatrizar a ferida
Quem sabe se um dia
Nós nos voltamos a ver.
(bridge)
Antes que t’ afantasmes
Só queria dizer, só queria dizer
Quem sabe se um dia
Nos voltamos a ver,
Quem sabe se um dia
Nos voltamos a ver
ZÉ MENOS
Eu só te senti fria quando te beijei pela última vez
Rosa rosa da roseira que fizeste crescer
Repousada entre as mãos que nos deram de comer
Ri-te Rita, minha rosa, hoje se adormecer
Vou sonhar com o sorriso que nunca mais vou ver
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11. |
Fechai o Jazigo
03:33
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“Ele não voltou a abrir os olhos!”
Disse uma voz do outro lado
E após um breve silêncio
O Desapego resolveu dizer algo
Pressionado p’la obrigação moral
De respeitar o momento e o grau de parentesco,
Mesmo que o estranho o tenha visitado no berço.
Foi cedo...mais cedo do que o bruxo lhe prometera
Agora a freguesia inteira comenta
O obituário ao lado da ementa à porta do tasco
P’ra uns era bom e trabalhador,
P’ra outros a encarnação do terror
Mas para todos o seu nome sempre foi
Senhor seguido do seu apelido.
Dobram os sinos no campanário,
Pêsames são oferecidos
Poucos sentidos (é a força do hábito...)
Enchente de estados de espírito
Veio ao velório o Ódio sádico
O Interesse também apareceu
Todo aperaltado c’o conto do vigário
Veio de carro com a Traição
Escondida ao fundo olhava o caixão
Veio a Amizade Perdida que não sabia se vinha
Por não ter perdão.
A Indiferença não quis aparecer
Ficou em casa c’o Rancor a ver o Porto-Benfica
O morto não fica no purgatório a pensar “Porquê?”
A Inocência morre de medo
A cruz, o choro, a mirra e a tosse
Obrigam os pais dela a abandonar cedo
Não querem a filha a sonhar c’o enterro...
Mas voltam na Missa do Sétimo Dia p’ra rezar um Terço.
E no meio de toda aquela caravana de mascarados
Ali estava sentado um casal discreto de rosto calado
Com boas lembranças trazidas ao peito, o velho Respeito
Afagava a jovem Agonia dizendo que agora
O homem estava bem.
(refrão)
Fechai o jazigo
Deixai o homem ir
Chega de conflito
Ele só quer dormir
|
Biruta Records Porto, Portugal
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