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Diabos m' Elevem

by Riça

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1.
Alma Penada 04:01
(refrão) Quem me leva Desta terra? Vem depressa Alma pesa. (verso) Tou a tentar não pagar caro p’lo último lugar no batel Desabafar tudo e purgar o chumbo das minhas entranhas de réu Porém o Meirinho olha para mim e profere a sentença final “Espírito impuro, deambula no escuro Suplica com urros como um animal” Alma Penada num mundo terreno, Condenada p’ra sempre ao mesmo enredo Acabas demente a dar c’a cabeça na parede Sentindo que nada te foi suficiente, Nada te deixou contente, Nada matou-te os arrependimentos Nada te fez sentir menos pequeno ou apenas que tu tenhas feito a diferença. Esta é a penitência por tudo de bom que tu desperdiçaste. Nessa tua essência perante uma dádiva vias desastre. Eras uma aparência Vivias somente p’rá opinião dos outros Esquecias aqueles que mais te amavam Pra que o mundo soubesse um dia quem foste. Pernas são mais lentas do que essa avidez de fera gostava, Servas d’ ampulhetas em que a areia nunca espera molhada. Queres que a tua letra seja importal mesmo amaldiçoada? Há beleza Na certeza De que um dia Tudo isto acaba.
2.
(intro) No fundo da ribeira há um corpo morto, uma ruína, Tombada pelas cheias e por feias Ventanias. Talvez seja melhor assim... Se não dá, não dá. Se ao menos pudesse voltar atrás Tudo faria Pra conservar a casa e ter de volta Essa harmonia. Mas talvez seja melhor assim... (refrão) Trago cacos no meu bolso Que me lembram do quão Fracassado foi o esforço Numa Ponte sem chão. Caudal bravo, engole escombros Ai, é uma maldição! E quando eu juro quebrá-la Vejo a Ponte no chão. (verso) Ainda não tínhamos vindo ao mundo quando eles se viram Cada um na sua margem. Não sei se foi paixão à primeira vista, a ribeira diz Que foi só necessidade em assentar, aceitar Vida é mais fácil a par Chega de deitar tarde, agora é vergar, poupar. Fez-se a Ponte à pressa com metal no anelar: um arco de volta perfeita sem pedra angular. Dois indivíduos vindos de sítios semelhantes. Ya...vinham de Pontes vacilantes. Desejavam tanto quebrar essa maldição Mas a Ponte entre eles não era a mesma para ambos. As águas rebentaram em abril E eu abri os olhos, Fui o primeiro a gatinhar no tabuleiro. Após quatro voltas ao sol o vazio ganha voz: um mano com quem aprendi a dizer “nós”. Entretidos co’a inocência nos dedos, Mal sabíamos que a ausência do medo não dura para sempre Vozes de parentes vindas das encostas alimentam Vozes rancorosas dentro de quatro paredes. A sério? Agora à mesa é sempre a mesma sobremesa? Uma discussão azeda, a merda dum braço de ferro Enferrujado p’la saliva saída dos berros? “EU JÁ TOU FARTO DE TE VER POR PERTO CARALHO” Maldita Ponte de Babel... O que era mel, tornou-se fel. Fazemos de conta que somos surdos, Mas insultos são tão brutos e gratuitos Que nos arrancam a pele. E puxam-nos a todos rumo ao lodo da ribeira. Um lar outrora calmo agora é cacos e poeira. Um par que se amava agora aparta-se em trincheiras E nós sem saber nadar nas águas traiçoeiras. Vida vira um vaivém entre as areias à espera de voltar a ouvi-los com as vozes meigas... (refrão) Trago cacos no meu bolso Que me lembram do quão Fracassado foi o esforço Numa Ponte sem chão. Caudal bravo, engole escombros Ai, é uma maldição! E quando eu juro quebrá-la Vejo a Ponte no chão. (outro) Caudal bravo Engole escombros Ai é uma maldição! Fracassado foi o esforço Numa Ponte sem chão. E quando eu juro quebrá-la Vejo a Ponte no chão Caudal bravo Engole escombros Ai é uma maldição!
3.
(verso) RIÇA Não peço menos que o universo todo! Guarda os ditados, nada me pode dar cabo dos sonhos Velho tolo, tira-me a puta da pata do ombro! Vais-te lembrar do nome quando estiveres a soro. Não prendem esta cigarra, eu sou ambulante Eu não nasci pra vir a morrer um Rato do Campo. Eu tenho planos e no meio de tantos Já só me falta ser maior de idade, longe desta antro cansado. Quero fumo, ruído, Tudo o que é proibido Cenário citadino Pa singrar como indivíduo. Farto d’hortas e silvas, Erva e terra nas tilhas, Maldita vila, fede a merda Anis e naftalina... Farto de metediços Com telhado de vidro A mamar subsídios Nem sabem o que é um livro... Tou farto de ser contido Olhado como um esquisito Não, eu não saí do circo Se ainda moro neste sítio. Na bouça não há quem me ouça Já só venho aqui pra dormir e mudar de roupa Parolos só querem novela, vício e bola Carro, casa, casamento, cachopos e cova (ah!) Cotas reprovam co’a cabeça Oxalá não t’ aconteça nenhuma surpresa E tenhas que voltar à mesma casa Que rejeitaste outrora, essa porta vai ‘tar trancada Rapaz tu toma nota: O tiro sai pela culatra. (bridge) Ninguém leva a sério o que diz o puto. Aos olhos desses velhos sou um Sabe-Tudo. Ninguém leva a sério o que diz o puto. Dizem que lá na cidade eu vou ser mais um vulto Com vergonha das origens e acabar maluco mas (refrão) Não quero morrer nesta terra em vão Ser o que não tenta O meu lugar não é na procissão Sou uma ovelha negra Só quero bazar desta terra e não Voltar sem ser lenda E no final verás quem tem razão Então lembra-te! (verso) ROKELHE Aqui não há tronos de ferro, quem é rei mora fora, quem reina aqui é cego As vistas que refiro são como um dilúvio eterno Quem não anda pelo esgosto treina com um Splinter térreo É tão simplório Já vi um Moto Rato se tornar ratatui sóbrio Já vi um Topo Gigio perder o ar de campónio quando trocou o vazio por um lugar mais erróneo Mas eu adoro este inferno Cá o Jerry e o Timóteo são assassinos em série Toda esta adrenalina move o Porto pós-moderno Aceita que dói menos, pois não há outro remédio São ruídos, ruelas, rateres, rodas e rasgões controlados por Speedies ou Mickeys com mutações São viagens a dois com destino para pensões Não há amor num lar de ratos, no máximo há lesões Mas corre, até com as quatro patas bambas Ou morre como um cobaia de Hamelin Não há equipa de resgate tipo Bernardo & Bianca, nem o próprio Rato Basílio aguenta o chinfrim É a movida que nos move, habitua-te A noite é uma criança Pequeno Stuart Este sítio é perdição, então procura-te porque o trilho para nirvana tortura-te.
4.
(intro) Eu fujo, tu caças, eu caças, tu fujo Foges, eu caço, eu caças, tu Fujo, tu caças, eu caças, tu fujo Foges, eu caço, eu caças, tu Há uma névoa aqui ao pé que me cerca a morada aberta Só me liberta quando eu for chamado à pedra Perto da cova ou na queima da carne morta Quem me dera saber saciar-lhe a cólera. Nesse lençol só cavalgam pesadelos Servem o carrapato sepultado sob os meus cabelos E à noite vêm mascarados de caretos Sedentos por cravar os dentes No pescoço das minhas inseguranças, Não há reza nem responso Que os faça dar um passo em falso no meu fojo Fujo coxo desse negro rosto que me quer ver amarelo ou roxo Ver-me rubro deixa-o indisposto. (refrão) Ando fugido no meio de maias Escondido desses perdigueiros da raiva E por mais que eu tenha camuflada a cara Eles cheiram o sangue da ferida que não sara (bridge) Eu fujo, tu caças, eu caças, tu fujo Foges, eu caço, eu caças, tu Fujo, tu caças, eu caças, tu fujo Foges, eu caço, eu caças, tu Não há canto ou pranto que quebre o quebranto Até que a boca peça perdão por danos causados E quanto mais eu adio mais o livro de S. Cipriano Vive na ponta da língua dos magoados Deus e o Mafarrico apostam alto na minha briga de galos Não permitem intervalos, querem um lado abatido Só há final para este conflito No dia em que eu souber estar em paz comigo Ainda assim duvido, o meu sexto sentido Cisma que a felicidade é cilada dos outros cinco Baixo a guarda e lá me aguarda magro e faminto O gémeo-mor sombrio O meu maior castigo Digo p’ra mim mesmo que eu não sou bom tipo Repito essa verdade a ver se ela vira mentira Prefiro sepultar meus apelidos do que dar a um filho Sangue maldito que nem um vampiro beberia (refrão) Ando fugido no meio de maias Escondido desses perdigueiros da raiva E por mais que eu tenha camuflada a cara Eles cheiram o sangue da ferida que não sara
5.
(refrão) Coisas que eu mal me lembro Habitam-me cá dentro Mas os cheiros no vento Desenterram momentos Cá dentro Pequeno Pa sempre (Pa sempre) Porque os cheiros Desenterram momentos (verso) RIÇA Farturas e Sumol na goela Festas de São Miguel, caçadinhas na capela. Aventuras na minha bike amarela Pelotão de catraios aos malhos pelas ruelas Não nos damos parados, Só queremos disparate Descarados, desviamos arames e um alicate Levamos morfes e uma bola debaixo do braço Bofes de fora a montar uma cabana lá no mato À caça do grilo ou da sardanisca Na mochila tazos, gameboy e fisga Na Sede em Astromil, humilde trapezista Baloiço só pára quando tocar no céu acima. Briol no corpo, bombazine e um gorro Perfume vem do fumo da lenha a moer no forno E no recreio já sinto o cheiro a Outono Saltar à fogueira, castanhas com sal grosso. Tão doce a casa da Dona Sofia Famel do Sô Manel vicia o cheiro a gasolina Pai bate uma manilha e dá-nos trocos pra Gorilas Mães bate na vasilha açúcar, ovos, margarina. Despertador às sete da matina Pr’a capital do móvel, galinhada na carrinha Na Rádio Arouca eu ouço uma concertina E o fedor na mala dá-me uma volta à barriga. (refrão) Coisas que eu mal me lembro Habitam-me cá dentro Mas os cheiros no vento Desenterram momentos Cá dentro Pequeno Pa sempre (Pa sempre) Porque os cheiros Desenterram momentos (verso) KASS Odor, óh dor, ode de dissabor Quando o teu perfume é de sangue e suor Alegria Está no fermento do sumo de uva Nostalgia Está no cheiro da primeira chuva A corte dos porcos o melhor das escondidas Pra não dar barraco vou esconder as minhas feridas Velhas dançam vira enquanto olhamos as meninas São marcas e cores do melhor das nossas vidas São erros (erratas) pelos pés meto as patas Vou estrumando o caminho faço crescer omoplatas Canto esta dor sou Franco Sinatra E a vida se perde sempre que o amor se escapa Bola cheia cheiro a monte de infantário Lei da selva sobrevive quem não for otário Viro a roupa ao contrário assim escondo a sujidade E o cheiro a velharias leva-me à minha cidade
6.
Ela não joga co’ baralho todo E fala alto como o caralho, moço... Deixa-me a rir de nervoso Quando aparece do nada Co’ aquele olhar de já fostes. Roga-me entre dentes uma praga Enquanto arqueia-me o sobrolho Eu já sinto ao longe o calor da lava Que lhe bombeia o pescoço, Pompeia ao pequeno almoço (ai, ai) Tirá-la do sério p’ra mim é um desporto Mas bem lá fundo a catraia é um doce Mal chega ao baile mete todos no bolso E só fecha o tasco quando chega o 112. Mulher do Diacho, Mais ardente que um gole de bagaço. Dá vontade de botá-la goela abaixo, Falar-lhe com a classe poética do Bocage. Essa cachopa não foi feita para um santuário, Dá-lhe corda e vês um bicho ordinário Tem o seu q.b. de fada do lar Mas não está para aturar merdas do tempo de Salazar Epá, não é menina de ficar à janela Não é da bouça mas parece quando Ela solta aquele arroto, memo badalhoco No meio do povo e deixa o sogro orgulhoso. (refrão) Nunca vi tal féme fatal Não há quem a cale Ou quem a calque, Na, na, na.... Nunca vi tal féme fatal Acho que isto ainda Vai acabar mal. Escusas de ir à bruxa p’ra saber das intenções Sim, ‘tou interessado p’ra além desses dois melões Eu não sou a Lúcia mas tenho tido visões: Eu e tu no Sá Carneiro a roubar aviões. É uma ideia fofa, ‘bora planear Enquanto eu lavo a louça e tu pões a roupa a secar A ver se a noite acaba co’a tua água no meu paladar E como eu sou bicho do mato nem tens que te depilar. Mas se não tiveres nessa ficamos na conversa Ou vamos até Leça apanhar um ar E voltamos sem pressa, já temos uma neta, Continuas boneca e eu com queda capilar Eu com pêlo nas orelhas, tu com ganda buço Com o nosso material já fora de uso Faço-te aquela ceia romântica com tudo: Copo d’ água, medicação e papas de sarrabulho. (refrão) Nunca vi tal féme fatal Não há quem a cale Ou quem a calque, Na, na, na.... Nunca vi tal féme fatal Acho que isto ainda Vai acabar mal.
7.
(intro) Queima, queima Queima o Zé Eh compadre, chama o padre! Diz que o diabo ‘tá enjaulado lá no adro Açaimado e vendado Ele pede ao padre que lhe traga um cigarro É bem provável acabar chalupa da minha cabaça, Intratável, sem casa, família caída em desgraça A subir e descer nisto tipo Bom Jesus de Braga Sempre o fiz descalço, não me venham cá dar graxa. Dou aos pedais como o peregrino d’ Aldoar Querem a vida do Malhão, é ver-vos a malhar Piso palcos de braços no ar, sem fazer lagar, Plateia até lembra uma alcateia em noites de luar. Carrapato em solo sagrado, Sola do meu sapato sabe ser um arado nisto Venha o mau olhado, olhem de cima ou de lado Riça tem olhar de basilisco. Não nasci para criado, fui parido p’a criar O catraio há de ser um mito Só quero deixar um recado: Meu nome é Zé do Telhado Vão desejar nunca ficar ricos. Talento vem da solidão, no tempo em que os dentes eram penedos do Marão, no tempo em que eu era uma merda, um puto marrão A dar enxaquecas à terra com o meu som. Comi muita sopa, sem colher, sem broas Cantei pelas sombras, com casas às moscas Sacrifiquei moças, pratiquei na lousa P’ra ser a madição das Caldas, o medo da louça. Sou monstro, demonstro: Escrevo c’a direita só ouço “Cruzes canhoto!” Se tombo no poço Sou Maria Gancha e vossos filhos meu almoço. Não adianta o alho-porro a dar no corno Sou Arminda de Jesus, tenho o diabo no corpo Sôr Abade, venha de lá essa lenha e o fogo Que eu não morro! é o início de mais um retorno (bridge) Senhor padre Lume é bravo Mas não arde na minha carne Sou o diabo! Senhor padre Sei que é chato Volto cá reencarnado Nos gaiatos Bicho-carpinteiro por inteiro que aqui anda Bisgo a dar com pau, sou Pauliteiro de Miranda Diz-me que o tinteiro que eu tenho é de sangue Assinto emprestar o meu jeito, assino Dona Branca A campa que me levar só no antigo das Antas Tenta o meu tamanho, ó meu amigo nem de andas Dá às chancas, pintar manta não adianta, vê se achantras Santa-Rita Pintor entrego o labor às chamas Canta a tabuada, não contas com este abuso Perdes o fio à meada, rói o teu sabugo Sai chapada à pai, a tua tromba vira adufe Pitéu da Mealhada quando à caneta dou uso Língua afiadinha tipo a menina Virinha Sou uma vinha americana que te fode forte a pinha És quem veste as calças lá em casa à moda antiga Mas vê se vais ao teu alfaiate fazer a bainha Não me vês remelas, só olheiras belas João Pestana nesta cama acaba sem barbela Num quarto à luz de velas tiro a tosse a várias melgas Enquanto conjuro acapellas p’a queimar capelas S’eu andar só a pele e costelas, tudo com cautela Tiro da miséria a merda da minha moela Visito ruelas, caço cabrões e cadelas Degolo goelas como num sacrifício celta Pátria cinzenta Pá, teria que inventar Forma de deixar negras e dar brancas A quem aqui ‘tá a querer ser o capeta Tão pitos...é uma pena... Enquanto esfrego um olho Sangro os frangos para o alguidar Guiso em água benta ’Tá servida a merenda Noviças e padrecos, Há canecos no meu lindo altar Pomada é bem azeda Tuga treme das canetas Quem é que vai ao tapete de ventas? Um-dó-li-tá
8.
9.
No início a vida foi-lhes mui madrasta Cantaram às pedras para erguer a casa Sob o jugo da besta de Santa Comba (Dão) Esgravataram para alimentar as bocas E não eram poucas... Sopas de cavalo cansado Dejejum p’a quem o trabalho Era a multa pelo pecado De se nascer sem um centavo A bruxa deitou cartas Deu alento às magras caras: “As vossas crianças não vão ter mãos calejadas! Mantenham por perto No vosso teto esta pobre aranha. Mantenham por perto No vosso teto esta pobre aranha!” (refrão) Deixa as teias em paz Quero a algibeira cheia P’ra poder ter paz Ela já morava lá ao tempo quando eu era apenas um chavalo Foi crescendo pouco a pouco sem ninguém s’ aperceber do cabedal do animal Para eles a criatura era sagrada, era amuleto Dádiva de Deus, dava-lhes o alimento Mas ninguém sequer sabia qual era o seu alimento Ela sabia todas as fendas da casa e das cabeças por igual Cada cruz, cada prece, cada furo que houvesse na camisa velha e no avental E é aí que aranha tece um venda p’ró casal e com ela Desova-lhes nos olhos a inveja Na manhã dos egos não teriam na memória O que o demónio fizera na véspera O bicho deu-lhes uma empresa e eles nisto Subiram logo p’ró pedestal Vida à grande e à francesa, só capricho Por fim já ninguém vivia mal As manias burguesas entupiram os ouvidos E teias lá no lar já tinham mais limites Naquele labirinto uma família de sete Era o prato favorito da praga cravada ao teto Da casa outrora modesta nada resta Agora nesta casa colossal Mau agoiro sai da sesta Sob os pés da cara cama de casal Veio o álcool e amantes, amigos de ocasião Esfrega de oito patas incitava a discussão Queijo e faca estavam na mão da razão Mas na mão do marido estava um cinto sem perdão O tempo foi agrisalhando cada filho E foram-se afastando cada um p’ró seu quintal Irmão de sangue em cabidela a matarem-se por milho Não querem rabanadas, só falam de heranças no Natal E eis que a vida faz-lhes a vontade tal e qual Lá na filigrana a aranha antevê o final: A mulher que os trouxe ao mundo numa cama de hospital. Entrevada, ainda respirava E eles já lhe tinham preparado o funeral Veio o padre a pedido do marido dar a extrema-unção Já as carpideiras ensopavam-lhe o caixão E quando dava o último suspiro ela viu ali Os oito olhos culpados por tudo estar assim Murmura um lamento em vez do testamento E a guerra na família nunca mais vê o seu fim. (refrão) Deixa as teias em paz Quero a algibeira cheia P’ra poder ter paz
10.
(refrão) Antes que t’ Afantasmes Só queria dizer Lamento os enganos Anos passam a correr Por vezes só queria Cicatrizar a ferida Quem sabe se um dia Nós nos voltamos a ver. RIÇA Maldita pergunta que me incomoda Com a vergonha aguda na resposta: “Quão fácil foi virar as costas A quem agora dorme sob rosas?” Ponho as nódoas num prato da balança, No outro ponho inócuas lembranças Nas quais eu era só uma criança Que te idolatrava mas agora quer distância Dias são lebres a fugir de mim Na sola da minha galocha viraste capim Nunca mais batemos à porta efeitada com o azevinho Mas sinto culpa quando penso em ti sozinho, Na companhia do vinho, Sem família, sem vizinhos E eu por aqui fico com o meu umbigo A pensar no dito e no não dito O meu telemóvel toca, o teu número veio bater à porta E eu não entendo porque não atendo Será que é rancor a um estupor Que me veio pedir um pequeno favor? Será cobardia? Ou torpor? Ou pavor a uma dor Ao supor que é uma tia ou doutor A ligar-me e a avisar-me p’ra vestir de negro? Não sei, nem cedo. Fiz bem? Foi erro? Deixei no me’mo desfecho: Silêncio. Vem-me à memória aquela velha estória Do ramo de flores entregue fora de hora E ao escrever-te isto sinto-me um hipócrita: Não te atendi mas ‘tá aqui uma dedicatória. (refrão) Antes que t’ Afantasmes Só queria dizer Lamento os enganos Anos passam a correr Por vezes só queria Cicatrizar a ferida Quem sabe se um dia Nós nos voltamos a ver. (bridge) Antes que t’ afantasmes Só queria dizer, só queria dizer Quem sabe se um dia Nos voltamos a ver, Quem sabe se um dia Nos voltamos a ver ZÉ MENOS Eu só te senti fria quando te beijei pela última vez Rosa rosa da roseira que fizeste crescer Repousada entre as mãos que nos deram de comer Ri-te Rita, minha rosa, hoje se adormecer Vou sonhar com o sorriso que nunca mais vou ver
11.
“Ele não voltou a abrir os olhos!” Disse uma voz do outro lado E após um breve silêncio O Desapego resolveu dizer algo Pressionado p’la obrigação moral De respeitar o momento e o grau de parentesco, Mesmo que o estranho o tenha visitado no berço. Foi cedo...mais cedo do que o bruxo lhe prometera Agora a freguesia inteira comenta O obituário ao lado da ementa à porta do tasco P’ra uns era bom e trabalhador, P’ra outros a encarnação do terror Mas para todos o seu nome sempre foi Senhor seguido do seu apelido. Dobram os sinos no campanário, Pêsames são oferecidos Poucos sentidos (é a força do hábito...) Enchente de estados de espírito Veio ao velório o Ódio sádico O Interesse também apareceu Todo aperaltado c’o conto do vigário Veio de carro com a Traição Escondida ao fundo olhava o caixão Veio a Amizade Perdida que não sabia se vinha Por não ter perdão. A Indiferença não quis aparecer Ficou em casa c’o Rancor a ver o Porto-Benfica O morto não fica no purgatório a pensar “Porquê?” A Inocência morre de medo A cruz, o choro, a mirra e a tosse Obrigam os pais dela a abandonar cedo Não querem a filha a sonhar c’o enterro... Mas voltam na Missa do Sétimo Dia p’ra rezar um Terço. E no meio de toda aquela caravana de mascarados Ali estava sentado um casal discreto de rosto calado Com boas lembranças trazidas ao peito, o velho Respeito Afagava a jovem Agonia dizendo que agora O homem estava bem. (refrão) Fechai o jazigo Deixai o homem ir Chega de conflito Ele só quer dormir

about

“Diabos m’ Elevem” marca a estreia do Riça no formato longa-duração. Após o EP “Bicho com Mau Gosto” (2016) e alguns singles pelo caminho - “Dragão IV” (2019) e “Napoleão Precário” (2020) - o artista leva-nos agora por um universo cuidadosamente criado ao longo de 11 faixas - incluindo a já editada “Canção das Maias” -, onde a sua própria estória se funde com o imaginário popular português com o qual o artista cresceu: cantigas, provérbios, superstições, fábulas e lendas.

Este álbum, que cruza o rap com a música tradicional, foi integralmente escrito e produzido por Riça. “Diabos m’ Elevem” conta também com Zé Poças na gravação, mistura, masterização e co-produção; Chuaga na guitarra elétrica; Luís Capela na viola braguesa; Ricardo Martins no baixo; e participações de zé menos, Kass, Rokelhe e Maçã.

Os temas "Alma Penada", "Canção das Maias" e "Fechai o Jazigo" foram também captados numa performance do Riça com zé menos e Chuaga para a POQ Live: youtu.be/iDtudlzpC4o?si=vG_xR811rfC9_BzH

credits

released September 14, 2023

Todas as faixas captadas, misturadas e masterizadas por zé menos (Zé Poças)
Voz de Rokelhe (António Roque Silva) captada por Marco Ferreira na “Paga lhe O Quarto” e QVXNO
Voz de Maçã (Catarina Carneiro) captada por José Leal
Guitarra Elétrica captada por Chuaga (Pedro Oliveira)
Viola Braguesa captada por Luís Capela
Baixo Elétrico captado por Ricardo Martins

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